sábado, 19 de junho de 2010

BÔNUS

Acho mesmo que é um novo ciclo! Considerando meu inferno astral interferindo diretamente no humor, me parece que os dias tem passado com um ar nostálgico, quase saudosos dos tempos idos, quando o grande desafio era tocar minha bateria com a intensidade voraz de um adolescente. Tudo em volta tinha um sabor de vida meio alucinante, com a velocidade e tenacidade que não sentia na época mas que agora faz falta em tudo que me cerca. Quero ter as coisas imediatamente como se o sorvete fosse se derreter em apenas alguns segundos, como se a sede não fosse desaparecer se não tomada num gole só! Alta ansiedade pela vida! Mas o tempo tem estado mais comedido, mais cauteloso e não tem dado chance de sorvê-lo num relance apenas. Meus olhos acompanham as letras se formando palavras enquanto minhas idéias já são textos prontos e muito bem definidos dentro da minha alma, como se pudesse copia-los e colá-los, inseri-los prontos, aos borbotões. Se assim fosse, eu até me deteria mais vezes diante do papel para escrevê-los. Mas dessa maneira a preguiça chega antes e toma conta do lugar, me empurra pro lado e pega a viola, displicente, reticente... Meu gravador já está entulhado de melodias que na hora me parecem perfeitas, imortais, mas que segundos após já ficam pra trás, esquecidas. No volante do meu carro eu tento pegar o tempo paralelo, aquele que se mostra numa velocidade mais adequada ao meu íntimo. Sempre corro demais, ando querendo chegar lá não sei onde!... Acho que é um novo ciclo que chega com a compreensão dessa fase mais desacelerada, não de dentro pra fora, mas por tudo que acontece no mundo, de fora pra dentro. Meu tempo fica mais escasso. As atenções se dividem em tantas partes que não me dou conta. Vivemos numa cidade espantosamente grande, nos sugando cada vez mais atenção e energia mental, dividindo com ela nossos amores e sentimentos mais profundos. Temos tanto o que viver que parecemos lentos ao dedicarmos um tempo a mais à alguma coisa, já que outras tantas nos esperam com o bico aberto, com a fome furtiva, com seus olhos arregalados, nos fazendo sentir... lentos... muito lentos... Tudo que nos consome está em grande escala e demasiadamente enraizado dentro de um contexto que nos é difícil conhecer a outra ponta. Com nossos parceiros mais próximos, ou até mesmo com quem dividimos a cama, nos é complicado atender aos anseios mais simples, considerando que, provavelmente, não assistimos aos mesmos programas de tv, com seus apelos únicos, e o que passamos a querer da vida, geralmente é conseguido através de complicados mecanismos de persuação dos dois lados, pra se ganhar tempo, ao invés de conversa mais franca e mais profunda, gastando alguns minutos a mais, deixando as palavras isufruirem de seus tempos devidos pra virem da cabeça e do coração, até sairem através da boca, como um diagnóstigo do sentimento, pra podermos interagir e entender o tempo de entendimento de cada um. Não sou filósofo. Longe está de mim essa capacidade aguda de observação, mas sinto na pele o frescor do tempo passando... Ele é o mesmo, com seu ritmo exato, complacente, compassado. Nós é que não o vemos assim. Há quem diga que as horas cada vez se estreitam mais, como se isso pudesse acontecer. Um minuto agora são cinquenta e oito segundos! Impossível! Mas até que parece... Por isso, agora, estou decidido a gastar mais meu tempo. Já que meu carro não consegue alcançá-lo, minhas pernas já não correm tanto e tenho muitos amigos pra conversar, decidi que vou gastar mais tempo em cada coisa que fizer, dedicando um pouco mais de alma a cada evento. Vai me parecer que o minuto terá apenas uns cinquenta segundos, mas tudo bem, será assim daqui por diante. Quem sabe o tempo está na promoção do tipo: _“Gaste um minuto a mais do seu tempo conversando com alguém e ganhe um bônus de trinta minutos de uma vida melhor!” Vou querer perder alguns minutos extras tomando um banho de sol deixando seu calor entrar pelos poros, ouvir uma música a mais cada dia como quem boia no mar, tomar um copo d'água em pequenos goles provando seu sabor, ler algum livro que está na estante há tempos tocando cada página como se toca a pele e fazer amor procurando mais prazer nas entrelinhas!... Vai ser assim. Talvez consiga sentir mais a consistência do tempo e, quem sabe, roçá-lo com a ponta dos dedos fazendo pequenos desenhos em ondas. Vou tentar. Aliás, já comecei. Sem querer me dei conta que o tempo deu uma paradinha pra ver o que eu escrevia!...

Um comentário:

Anônimo disse...

Como ousa a dizer que não é um filósofo? Quando o homem se sente perdido sem saber qual caminho escolher não deciframos o que queremos, um vazio que as vezes nos consome sem motivo aparente, dias com vontade de mudar o mundo,sair gritando... já em outros sentar-se em frente ao MAR e apenas ficar ali contemplando o nascer do rei SOL, nesse momento conversamos com nosso Deus interior...Quando tudo isso acontece conosco é o momento em que estamos muito reflexivos e ficar neste estado não é ruim, por mais que possa dar uma sensação de estar perdido, é claro que, nem todos estão no mesmo grau de desenvolvimento psiquico e espiritual portanto alguns não teram olhos de ver e ouvidos de ouvir..pois estão tão contaminados com o modelo de vida que nos foi imposto, e nem percebem essa mudança interna maravilhosa, esse despertar, esse estranhamento é como escalar uma montanha muito alta, na subido sentimos medo, vontade de voltar atrás, perigos, mas depois de passar pelos obstáculos chegamos ao pico, encontramos nossa centelha divina, A Pedra Filosofal (Lapis Philosophorum) mas para perceber isso precisa ter muita sensibilidade, algo que você tem de sobra ...


A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende.
(Arthur Schopenhauer)

Paz e Luz amigo!

Viviane Lopes